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Enchentes: Um problema de classe
Atualizado: 23 de jul. de 2020

Como para pobre desgraça pouca é bobagem e nem só de Covid-19 vivem as desgraças da classe trabalhadora, viemos hoje debater as enchentes urbanas.
Todos os anos as águas de Março invadem as cidades brasileiras levando de suas periferias sonhos, o trabalho suado de construiu um lar e vidas. Nos últimos 20 anos 2500 pessoas morreram em enchentes pelo Brasil, somente até março deste ano 122 se foram nas enxurradas. Para entender o fenômeno das enchentes temos de levar em conta duas coisas em relação ao espaço: Seu caráter natural e seu caráter social.
O caráter natural do espaço é muito comentado, ao construirmos as cidades muitas vezes a ocupação humana ocorre em áreas que antes faziam parte do curso d’água, às vezes atropelando o espaço das cheias periódicas ou esporádicas, além disso, em geral a água da chuva naturalmente não se transporta em grandes corredores como na cidade, mas vai se assentando no solo e é presa (armazenada) pela vegetação. O mesmo se pode pensar dos deslizamentos, que são mais incomuns diante da vegetação original das regiões que seguram o solo com suas raízes.
Porém, conhecendo amplamente este caráter natural, qual o caráter social que nos leva à multiplicar estes erros? A produção capitalista do espaço!
Apesar de o espaço ser algo evidentemente natural ele é usado pelos seres humanos a partir de uma série de relações sociais, em nossa sociedade estas relações são capitalistas e então o espaço é produzido para servir ao capitalismo.
Dois movimentos simultâneos ocorrem, o capitalismo precisa das cidades, a aglomeração de capitais e de meios de produção, além de pessoas, em pontos específicos que acelera o processo de acumulação (ou seja, diminui a distância temporal entre o “investimento” e o “lucro”) e mantém mão de obra disponível. Ao mesmo tempo, no campo, como a terra é uma mercadoria, ela vai se acumulando na mão de capitalistas, se concentrando, isso vai expulsando aqueles que ali viviam e estes migram para as cidades, a modernização constante também diminui gradativamente o número de trabalhadores necessários no campo, que vão sendo empurrados para as cidades.
Na cidade um processo parecido ocorre, o solo urbano é ele próprio uma mercadoria, aqueles com melhores condições (por exemplo, sem enchentes) são mais caros, e aqueles sem estrutura, mais baratos.
Coisas como saúde, educação, segurança, facilidade de chegar ao trabalho são transformados em desculpas para encarecer o solo urbano e seus donos tendem a “esconde-los” buscando momentos de maior valorização, a isso chamamos de especulação imobiliária, outros vivem de sua renda – aluguéis-, etc. Os trabalhadores, em geral, ficam em bolsões de terrenos menos valorizados em áreas desestruturadas e dentre elas estão às áreas de enchentes e deslizamentos.
