
Clio Operária
Critica ao programa de Gotha, por um programa revolucionário | Coluna Pagu
William Poiato*
Bem vindo à Coluna Pagu, coluna quinzenal do Clube Pagu para a revista Clio Operária. A ideia desta coluna é comentar e auxiliar na leitura do livro do mês do Clube e ainda por cima debater um pouco sobre o Marxismo leninismo.

O segundo livro de Março é o Crítica do programa de Gotha, com a edição da Boitempo. Este clássico de Karl Marx, de 1875, exprime uma crítica ao programa de um grupo da social-democracia alemã em Eisenach, do qual Marx e Friedrich Engels eram próximos.
O texto é talvez um dos escritos, além do Manifesto, onde Marx deixa mais claro seu projeto político. Fundando inclusive na tradição retomada por Lênin de posição “no fio da navalha” combatendo as posturas idealistas (à esquerda) — como o anarquismo — e ao mesmo tempo as posições pessimistas e recuadas (à direita) — como os reformistas.
Existem pelo menos três grandes polêmicas nesta crítica de Marx:
1° O Estado: Marx propõe neste programa a substituição do “Estado Livre do Povo” por “Comuna ou Comunidade”. Para Marx, seria conceitualmente contraprodutivo pensar em um Estado Livre, ainda mais que fosse do povo — em unidade. Para ele o Estado tinha origem nas próprias contradições das classes sociais e era uma arma de uma classe sobre a outra, sendo assim, quando os trabalhadores tomarem o Estado, terão de quebrá-lo por dentro, transformando-o em algo que já não é, propriamente dito, um Estado. Por isso aproximá-lo da Comuna ou simplesmente retornar ao conceito básico de comunidade. Desta tradição surgem os debates, por exemplo, do Estado de novo tipo levado a cabo por alguns leninistas como Iudin e o polêmico Beria.
2° O Socialismo: Marx daria algumas pistas de seu pensamento sobre o socialismo, defensor do centralismo, ao se digladiar com o federalismo anarquista. Ele defendia que a produção da sociedade como um todo, socializada, traria avanços que o capitalismo não era mais capaz de desenvolver, pois as forças produtivas se desenvolveram a tal monta que já não se comportava mais este sistema — daí surgem as crises de superprodução. Mas, neste livro, ele traz sua visão sobre a questão do trabalho, onde na primeira fase do socialismo “o indivíduo recebe da sociedade exatamente o que lhe oferece”, sendo então o trabalho assalariado de certa forma mantido, e a retribuição dos indivíduos seria conforme a produção social. Marx, neste ponto, contrapõe Lassale em seu “Se a classe operária tudo produz, a ela tudo pertence” (frase que, muitas vezes, é erroneamente atribuída a Marx), com uma noção do trabalho como voltado à sociedade, possível e tomado por ela:
“Bela conclusão! Se o trabalho útil só é possível na sociedade e por meio da sociedade, o fruto do trabalho pertence à sociedade — e desse produto só é dado ao trabalhador individual tanto quanto não é indispensável para a manutenção da “condição” do trabalho, a sociedade”